terça-feira, 29 de março de 2011

O ativismo estético de Joseph Beuys

Dados Catalográficos
Exposição: Joseph Beuys – A Revolução Somos Nós
Local: MAM - Museu de Arte Moderna da Bahia - Solar do Unhão
Direção e Curadoria Geral de Solange Farkas
Curador. Convidado: Antonio D’avossa
Período: 13 de Dezembro de 2010 á 13 de Fevereiro de 2010

A exposição: “Joseph Beuys – A Revolução Somos Nós” – ancorada no tripé: Cartazes, Múltiplos e Vídeos que contempla as diversas fases e facetas de Joseph Beuys, no mundo artístico – político. São três linguagens artísticas diferentes congraçadas em um mesmo dialogo: fazer e traçar uma linha de fuga, convidando o homem como seu duplo a revolucionar o seu cotidiano através da sua relação com a arte.

A estética ativista de suas performances gráficas, plásticas e visuais, busca colocar o homem em um lugar que ele possa existir através de pensamentos e ações criticas. Fazer de ações ordinárias e despolitizadas pela máquina estatal, acessórios extra-ordinários e politizados na sua forma de esculpir-se o mundo e a si próprios, transformando e imbricando o ambiente que lhe cerca e que se repete em diferentes desdobramentos estéticos na concepção idealizada de sua escultura social.

O ritual percorrido por suas idéias busca recriar a sua própria existência, imantizar-se quanto individuo na sua própria criação sendo o avesso de si mesmo. Independente deste processo evolutivo está intrinsecamente eidetizado a texturas incomuns, como a do feltro e a da gordura ou a das caixas e dos engarrafados utilizados em seus múltiplos.

Ele, Joseph Beuys na sua busca de criar novas possibilidades sociáveis com a sua idéia de Escultura Social quebra as formas engessadas de Agenciamentos estruturadas pelas “máquinas desejantes” içadas na vida do homem pelo Estado. Sua antroposofia artística nasce na tentativa de reproduzir dentro do homem um “Corpo Sem Órgãos” que o leva a um processo de transgressão psíquica e que faz dos co-autores de sua obra artistas nas instâncias do universo micro molecular.

Os paradigmas imagéticos soerguidos nos objetos de suas ações causam no ambiente um alisamento retroativo, aquele que no seu devir produz novidade. Desertifica as arquiteturas sociais apregoadas no nosso inconsciente pelo automatismo factual do mundo das representações. E nos permite a experiência estética – pedagógica de doar-se em desmesura, de lançarmo-nos neste “mar de dessemelhanças” (dês) homogeneizado pelos estratos arborescentes nos processos de formação dos indivíduos.

A sua forma de desconstruir os espaços configurados pelo Estado requer uma ação dos homens sobre a cidade, contrária ao movimento previsível no qual estamos habituados a desdobra-se, locomoções que os amputa, obstruindo o acintoso gesto de criar vias de trânsitos múltiplas nas suas relações. É com essa complexidade autônoma que Joseph Beuys costura as relações humanas mitizando-se em imanência a fenomenologia das suas esculturas midiáticas interferindo no ambiente e nas vidas das pessoas sem antes passar pelo crivo de sua existência.

Trazendo a fluidez crua da gordura e do feltro, do chá, substituindo a coca-cola nos seus “monumentos transportáveis”, o vinho como signo de longevidade na emblemática dos múltiplos, ao associar a sigla da Instituição que o acolheu e o repudiou - a Universidade Livre Internacional (F.I.U.) - mandando como um coiote, na sua função de mensageiro dos espíritos o enunciado de que os caminhos das diretrizes educacionais estavam velhos, decrépitos, ofegantes e avinagrados como um vinho estragado.

A sua obra não está aí na contemporaneidade simplesmente para causar uma desimpressão momentânea da ordem, mas para germinar e pantemporaneizar nas gerações em formação sítios, redes, desalgoritimias que abrem fendas e dialoga com a tecnologia por um devir outro destecnicizado, desprogramado de suas funções alienizantes de se operar a matéria – vida. Joseph chama a existência um cartaz líquido em pleno fluxo de transmutação imagética – fotografia quântica que decora e arranha a parede da Máquina Estatal.

quarta-feira, 6 de agosto de 2008

A ESTÉTICA EXTEMPORÂNEA NO UNIVERSO DE TUNGA


Dilemas de interpretação do neo-criativo

A arte contemporânea nos convida aos questionamentos sobre os desenhos inescrutáveis de suas instalações onde objetos do cotidiano são retirados do lugar comum e legitimados como obra de arte em espaços como museus, galerias e exposições.

Tal ousadia é percebida com espanto causando sensações que vão do repudio a admiração, fato é, que ninguém passa impune à arte contemporânea. Quem pôde esquecer O vaso sanitário exposto como obra de arte por Marcel Duchamp no inicio do século XX?

Uma mosca em meio a girinos, um ponto preto numa tela em branco, fotos disformes e repartidas, vídeos do vazio ou de paisagens, essas e outras expressões da arte contemporânea causaram certo estranhamento cultural na época em que foram assim expostas pondo em discussão o próprio conceito de arte.

Seria arte o David de Michelangelo e a Mosca entre Girinos de Tunga não? O que é arte? Quem confere a obra o status de arte? Tais questionamentos geralmente levavam as pessoas a se perguntar o que verdadeiramente seria arte? E o que de fato aqueles objetos muitas vezes tão conhecidos e próximos do público queriam dizer além de sua prosaica função?

A arte contemporânea devorou muita gente com o seu sorvedouro, imbricado de hermetismo durante muito tempo. Fazendo nos sentir como gorilas diante de um monólito. Comportamento que na atualidade foi superado.

Hoje as obras de arte contemporânea já não assustam tanto. Antes, pelo contrário, ao visitar uma exposição em que as pessoas não encontram uma possibilidade de interação e diálogo mais direto com á obra, elas saem com a sensação de que algo lhes faltou. E, se antes, a obra de arte as intimidavam e afastavam por conter em si algo enigmático e ao mesmo tempo aberto e cheio de mistérios, na atualidade o público já se aproxima com a sensibilidade necessária para dialogar com essas possibilidades hermenêuticas e quer extrair o máximo da obra ali exposta. Pois entendem Ser e Estar ali, imbricado no objeto, uma semiótica oculta, carregada de polissemia, que só será entendida e desvelada se o (tele) espectador (a) o possuir como um áporo. Logo aquela sensação não bastada, cede lugar á uma experiência fantástica e impregnada de saber, é como estar bebendo de uma fonte de águas vivas.

È assim que as obras de Tunga, artista plástico, pernambucano que expôs esse mês aqui em Salvador se coloca diante do público. Cheia de ludicidade, encanto e maximalismo.

Com objetos extraídos da sua mais ordinária condição, ele faz saltar para a irreal extraordinária posição. Dando foco extemporâneo ás suas criações, marcando esteticamente suas formas, linhas, nuances cromáticas e densidades dosadas de luz e sombra.

O espaço preenchido por Tunga é muito bem aproveitado. Com seu jogo de luz e sombra, até o vazio ganha sentido, pleno de uma atmosfera etérea de transparência fosca e leve. Seus objetos em tamanhos irreais, não estão ali por uma questão de elementariedade espacial, mais, dialoga de forma explicita e recôndita com a condição humana. Pois na maioria das vezes a forma a ele configurada o remete a um problema comum ao ser humano desde sua condição primitiva enquanto ser dotado de capacidade social como, por exemplo, a problemática relação e discussão de gênero nas relações humanas.

O conceitual maximilista na simplicidade hermética de suas formas nos faz conceber, como sugere Agnaldo Farias em seu texto sobre a Arte Contemporânea Brasileira, que cada obra de arte traz embutida uma reflexão quanto á própria noção de arte que nós temos, e é essa mesma obra de arte que vem modificar a estrutura daquilo que conhecemos e classificamos como arte. Fato que no universo artístico e proposto por Tunga, se estabelece de maneira vital e transformadora de seu meio. Afastando assim consideravelmente o estranhamento cultural, associado comumente ao que nos é inédito.